segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Sobre a fome descomunal

Sentia-me inquieto. Havia um frenesi que me corrompia desde as pernas, trêmulas, até a ponta dos dedos, gélidos. Havia, também, uma ânsia que percorria o estômago e comprometia a retidão da clavícula, tamanha a pressão que me exercia sobre os músculos. A respiração se tornava cada vez mais ofegante, e foi preciso recorrer à lógica para decidir, sob pena de morte, entre ceder ao teu feitiço ou continuar resistindo. Decidi ceder. E começo meu relato, propriamente dito, a partir deste ponto: lá estava eu, enfeitiçado e faminto. Por instantes intermináveis permaneci no chão, até que os instantes terminaram e pude me levantar, ainda trêmulo. Não se atente às contradições do relato: nada é linear às vésperas e às póstumas de um feitiço. Então lá estava eu. Aos poucos pude recordar o que pensava ter ocorrido. Lembro-me de estar sentado a cerca de minha casa. De lá, podia sentir a brisa que percorria as margens de Azgul, o bosque da minha infância. Os velhos sábios do povoado costumavam dizer que ali, adentrando suas vísceras, Azgul resguardava a essência dos espíritos élficos. Crescemos, as crianças, encantados pela curiosidade de habitar lado a lado à grandiosa, embora singela, morada dos elfos-do-sul. Absorto em pensamentos, ali, ainda sentando, senti ser observado. Seriam eles, os elfos de Azgul? Sorri internamente. E, enquanto o fazia, por pouco distingui uma outra voz que não a minha própria. A voz ecoou mais uma vez. Repetiu-se. Curvei-me, na tola tentativa de compreender o que havia escutado. Sem sucesso, fui tomado pelo ímpeto de adentrar o bosque. De algum modo, sabia dos riscos que corria. Apesar de conhece-lo como a palma da mão, Azgul, durante a noite, exalava tremendo mistério. Parecia aceitar e, sobretudo, concordar com as lendas que sempre foram contadas a seu respeito. Ainda temoroso, comecei a avançar os primeiros passos rumo ao que sabia ser o caminho mais curto até os rochedos. Estando lá poderia raciocinar sobre as atitudes que tomava. Ao longo do caminho fui sendo guiado pela voz, que dizia-se mais próxima pela intensidade com que soava aos meus ouvidos. Permaneci atento até que fui tomado pela sensação insuportável de haver encontrado a origem do som. E lá estava ela. Estávamos nós. Frente à frente. Meus olhos custavam acreditar no que viam. Havia uma mulher esguia, de pele alva, tão alva e esteticamente rígida que parecia viver sob a acusação de haver roubado a robustez do mármore. Seu rosto possuía beleza sobremodo aristocrática. Sua boca simulava as curvas sinuosas de um pássaro cujo bater de asas emana graça e frescor. Os cabelos eram ondulados feito  as raízes de uma árvore que fincava-se ao solo e fazia moradia. Olhava para mim. Mesmo atordoado, pude discernir a diferença entre sua face e seus olhos, tão somente os olhos. Aquela, repousava inerte em puro mármore. Estes, me devoravam com ânsia contagiante, pois me bastou que os olhassem pare que eu, também, fosse tomado pela ânsia de desejá-los. E os desejei. Seus olhos eram todas as chamas. Aproximando-se a mim, despiu-se da capa que a cobria parcialmente. Pude ver e tocar seus seios com mãos e língua. Também toquei seu sexo, igualmente com mãos e língua. Lembro-me do sabor que me corrompera a sanidade. Lá estava eu, enfeitiçado e faminto. 

Um comentário:

  1. NOOOOOOOOOOOOOOOOOSSINHORA, mandou muito bem, sério. Chega me arrepiei de leve.

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